Análise financeira de risco, preço e retorno
Todos os dias, tomamos decisões nas empresas que dirigimos. Algumas irão solucionar problemas do dia a dia da empresa, ou do seu futuro imediato. Outras, ainda, são relacionadas a investimentos. Onde aplicar o dinheiro para que a empresa torne-se melhor no futuro.
Decisões sobre investimentos podem ser chamadas de estratégicas. A lógica que as sustenta não é operacional ou de rotina, e sim de longo prazo, visando tornar a empresa bem sucedida. Implicam investir tempo, dinheiro e energia em projetos cujos os resultados são desconhecidos, porque ocorrerão no futuro, num ambiente de risco ou de incerteza.
O risco de um investimento ou de um ativo financeiro geralmente é mensurado a partir das atribuições de probabilidades subjetivas e objetivas, aos diferentes estados de natureza esperados e, em consequência, aos cenários de resultados criados.
A probabilidade objetiva pode ser definida a partir de séries históricas de dados e informações, frequências relativas observadas e experiência acumulada no passado. A subjetiva, por sua vez, tem como base a intuição, o conhecimento, a experiência do investimento e, certo grau de crença do tomador de decisão.
Vale lembrar que, resultados passados não garantirão os mesmos resultados futuros. Quando muito, podem servir como tendência para construir cenários futuros, acrescentando-se boa dose de subjetividade, intuição e conhecimento de especialistas.
No processo de análise financeira existem três variáveis que merecem especial atenção: o risco, o retorno e o preço.
▪ Gerenciamento de risco
Risco em finanças é quando há variabilidade no retorno que se espera de um determinado ativo. Imagine uma aplicação em CDB prefixado, que promete pagar, ao final de 30 dias, 2% ao mês sobre o capital investido. Sabe-se que o banco pagará o valor estipulado, independentemente de qualquer fato que ocorra na economia. Pode-se dizer que, nesse caso, o retorno obtido foi exatamente igual ao esperado. Não há risco no CDB, pois não haverá variabilidade de retorno esperado, em termos nominais. Porém, em cenário inflacionário poderá haver risco real.
O mesmo não vale para as ações de uma empresa. Geralmente espera-se, no próximo mês, algo como a média dos retornos obtidos nos meses anteriores. Todavia, sabe-se perfeitamente que o retorno do mês seguinte poderá ser maior ou menor do que o valor esperado. Portanto, existe risco. Os retornos obtidos no passado não garantem que eles sejam repetidos no futuro, servem apenas como tendência para criação de cenários futuros.
É próprio do ser humano mostrar-se avesso ao risco. Assim, os investidores só se dispõem a correr algum risco quando percebem a possibilidade de obter um retorno maior do que aquele usualmente obtido na renda fixa, que não lhes oferece risco.
Quanto maior a variabilidade de retorno esperado, maior o risco do ativo. E quanto maior for o risco, maior será o retorno esperado pelo investidor para manter aquele ativo na carteira. Quando existe risco, fala-se de retorno esperado, e não de retorno certo, porque o risco introduz uma variabilidade que não permite afirmar nada com certeza.
Para o investidor, o risco pode ser uma variabilidade positiva quanto negativa. Claro que o investidor está preocupado com o componente negativo, mas sua ambição o leva a investir no ativo pensando no seu componente positivo.
Não há como eliminar o fator risco, mas certamente é possível criar situações para minimizar os seus efeitos. A melhor forma de enfrentar o risco é por meio da diversificação, um princípio básico de finanças.
A diversificação pode ser comparada ao velho ditado “não ponha todos os seus ovos na mesma cesta”. Se cair pode quebrar todos.
▪ Preços dos ativos
Quanto ao preço dos ativos é importante compreender três pontos. Primeiro, o preço é estimado pelos agentes financeiros com base no valor presente dos fluxos futuros de caixa que eles esperam para o ativo.
Segundo, levam em conta os riscos percebidos quando estabelecem a taxa pela qual vão descontar o fluxo de caixa futuro esperado para a determinação do valor presente. A taxa é o mínimo de retorno exigido para “carregar” o ativo. Quanto maior for o risco, maior será a taxa considerada e, portanto, menor o preço que o agente estará disposto a pagar pelo ativo.
Por último, o preço final resulta da intensa negociação nos mercados secundários e do jogo das forças de oferta e demanda dos diversos agentes com percepções distintas.
Quanto maior for o risco do ativo percebido pelo mercado, maior será a taxa de retorno exigida pelos investidores e, consequentemente, menor será o valor presente dos fluxos de caixa futuros esperados.
▪ Retorno esperado x obtido
Quando se fala de retorno de ativos sem risco como uma renda fixa (CDB prefixado), não há diferença entre o retorno esperado e retorno efetivamente obtido. Por isso, diz-se que não há risco.
No entanto, para a maioria dos demais ativos existirá risco. O retorno esperado e o efetivamente obtido serão diferentes na maioria das vezes. Por isso é preciso trabalhar com as duas variáveis.
Quanto menor o preço pelo qual se compra um ativo, maior será o retorno que se pode esperar dele. Suponha que se possa prever que um ativo vai estar ao preço de R$ 100 ao final de um mês. Ora, se você comprar o ativo ao preço de R$ 100, terá um retorno de 0% no mês. Todavia, se comprar o ativo ao preço de R$ 50, terá um retorno de 100% no mês. Ou seja, quanto menor o preço pago, maior o retorno esperado.
A lógica do mercado
Os investidores acompanham os retornos que os ativos estão oferecendo. Ao observar esses retornos, eles medem sua variabilidade em relação ao retorno esperado ou ao retorno médio. Calculam, então, o desvio padrão dos retornos passados, que será uma medida de risco para o ativo. O risco do ativo é comparado ao retorno esperado, para se verificar se são compatíveis.
Podem acontecer três situações: o retorno esperado é compatível com o nível de risco e, nesse caso, o mercado entende que o preço pelo qual o ativo está sendo negociado é justo.
O retorno esperado está acima do que parece razoável para tal nível de risco e, nesse caso, os agentes se sentirão atraídos pelo ativo e começarão a comprá-lo, originando assim uma pressão de demanda que tenderá a aumentar o preço do ativo e, logo, diminuir o retorno que dele se pode esperar.
Por fim, o retorno esperado está abaixo do que parece razoável para o nível de risco do ativo, e os agentes que o têm na carteira irão ao mercado vendê-lo, acarretando assim uma pressão de oferta que tenderá a baixar o preço do ativo e aumentar o seu retorno esperado, no caso de o ativo atingir um retorno esperado compatível com o seu nível de risco.
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